O indicador de clima económico confere informações
avançadas sobre o estado dos diversos setores e de uma economia, de uma forma
geral, permitindo, inferir sobre a dinâmica desta e a eficácia de políticas de
crescimento económico.
Na ausência de dados quantitativos globais, por
exemplo, o PIB trimestral como acontece em vários países com sistemas estatísticos
mais desenvolvidos, a informação qualitativa, conjugada com outras informações
relevantes, nomeadamente o registo de empresas, a evolução da carteira de
crédito à economia, as exportações, as importações, que no nosso caso são
publicados regularmente, permite fazer um exercício interessante de análise em
percurso.
Sendo um indicador conjuntural, o indicador de clima
económico é caracterizado pela sua volatilidade fruto de eventos pontuais que
condicionam o ânimo e as expectativas de curto prazo do empresário. O anúncio
de estatísticas que apontam para uma redução do crédito pode influenciar pela
negativa a motivação de um empresário com um novo de investimento em mãos que
poderia resultar a curto pu médio prazo no aumento das vendas e do emprego. A
redução das importações pode significar uma menor procura induzida por menores
rendimentos dos consumidores. Esta interpretação poderá ter uma influência
negativa no empresário, olhando para o seu mercado nos 3 meses seguintes.
Todavia, novas informações positivas poderão mudar a confiança do empresário e
justificar uma mudança de ânimo no empresário e um clima empresarial mais
favorável. No longo prazo, as desmotivações e euforias compensam-se e
globalmente traduzem um comportamento positivo ou negativo alinhado com a
evolução da economia, particularmente do Produto Interno Bruto.
O último relatório do INE revela sentimentos mistos
nos vários setores alvo de inquéritos regulares. O sentimento positivo no setor
do Turismo e do Comércio em Feiras é contrastado pela fraca confiança dos
empresários dos transportes, da indústria transformadora e do comércio em
estabelecimentos. A redução das importações, do crédito bancário e do
investimento, particularmente privado e estrangeiro, que podia servir de
contrapeso face à redução da formação bruta de capital fixo público, pode
sugerir uma redução da dinâmica de crescimento verificada em 2011 (4%),
eventualmente mantida em 2012 (4-5%), segundo dados do BCV, face à forte quebra
de 2010 (1,9%).
A análise macro deve ser reforçada com uma análise
mais fina dos determinantes do clima de modo a melhor se inferir sobre a
solidez dos mesmos e da capacidade de medidas de política poderem contornar os
constrangimentos, beneficiar o ambiente de negócios, promover o investimento, o
crescimento e a criação de emprego.
O setor da construção, tradicionalmente pessimista
(média negativa), mostra-se estranhamento insensível ao crescimento do setor
nos últimos 10 anos. A insuficiência da procura poderá ser ultrapassada com
novas tecnologias e processos de produção que permitam a redução de custos e
preços de venda de habitações. A inovação é uma resposta. Recomenda-se a
introdução da inovação endógena ou exógena que seja capaz de reduzir os custos
de produção e melhorar a eficiência de utilização recursos naturais e
ambientais. Por exemplo, a utilização do solo para a produção de blocos. A
melhoria de processos através da implementação de sistemas de qualidade
ambiental e de produção industrial.
O constrangimento relevante do setor do Turismo
prende-se com a procura. As estatísticas anuais, que mostram um importante
aumento todos os anos, quer em turistas, quer em dormidas, levam a perceber que
o défice de procura se restringe às pequenas unidades hoteleiras e de
restauração que não estão no circuito internacional dos grandes operadores
turísticos europeus. Estas pequenas unidades espalhadas por todo o país
precisam, sobretudo, de uma melhoria significativa da qualidade da oferta, da
adequação da capacidade com o standard de vendas internacionais, do
desenvolvimento de canais alternativos de venda e da aposta no Turismo
doméstico. Reputamos como importantes a oferta de capacitação da ACADEMIA das
Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) da Agência, lançado no 2º semestre
deste ano, do serviço de vendas via web E-Turismo da PRIME, promovido pela
Direção Geral do Turismo.
A concorrência registada no setor dos Transportes pode
ser obviada com o aumento da qualidade do serviço. São reconhecidos os níveis
deficientes ou inexistentes de qualidade de serviço nos transportes
intra-urbanos, inter-urbanos, aéreos e marítimos. Por seu lado, as dificuldades
financeiras poderão ser mitigados pela melhoria de capacidade de gestão e da
educação financeira. Estes têm merecido foco no plano de formação da ACADEMIA
MPME.
Os constrangimentos associados ao crédito,
acesso e taxa de juro, revelados pelos empresários da Construção e dos
Transportes, terão uma solução em breve com a implementação do Sistema de
Garantia Mútua, cuja empresa mutualista, a CV Garante, já está em fase inicial
de funcionamento, prevendo-se a análise de dossiers de pedido de garantias e
apoio no acesso ao crédito no próximo mês de Novembro.
A falta de energia e água, bem como as matérias-primas
na indústria transformadora estão em processo de resolução. As barragens
permitirão libertar a água para as industrias, hoje muito consumida na
agricultura através dos furos para o subsolo. O aumento da produção agrícola
beneficia a nossa indústria, sobretudo a Agroalimentar, a mais importante no
país. Esta vem beneficiando do aumento gradual da produção agrícola, com maior
diversidade, volume de fornecimento e preços mais baixos.
Neste contexto de redução da dinâmica de crescimento e
estando numa fase muito avançada de upgrade das infraestruturas de base à
atividade económica, é expectável e desejável que se materialize o efeito
gradual dos investimentos estruturais na melhoria da eficiência e da
produtividade, de modo impulsionar ganhos de competitividade das empresas, dos
setores, em especial os setores estratégicos (clusters), e da economia no
geral.
Frantz Tavares
Presidente ADEI