A ADEI Tem vindo a operar no
sentido de promover a criação, desenvolvimento e sustentabilidade das empresas,
através de acções de desenvolvimento da produtividade agregada, capacitação e
inovação empresarial, tendo sob sua gestão directa os Programas CRIA, PME+,
ACESSO AO MERCADO, INOVAR, RENOVAR e Academia MPME. Nos últimos anos, a ADEI
tem ganho know how significativo
acerca da realidade operacional das MPME cabo-verdianas, actuando de forma
directa dentro das empresas e dos projectos de criação de empresas, através da
contratação de consultores competentes para prestarem assistência técnica
especializada de acordo com as necessidades avaliadas. Por exemplo, no âmbito
do Programa CRIA (programa direccionado para assistência técnica na criação da
empresa), a Agência assumiu uma viragem metodológica.
Com base no perfil dos clientes
que se candidatam ao programa, know how
da volatilidade dos mercados internacionais e dos vários constrangimentos
existentes no ambiente de fazer negócios, já lá vão os tempos em que os planos
de negocio afiguravam-se como ponto de partida base para a criação de uma nova
empresa. Os grandes planos de marketing, igualmente começaram a configurar-se
desajustados à nossa realidade. Os grandes estudos de mercado, passaram para um
segundo plano, ao questionarmos se de facto, na fase de criação da empresa,
valeria despender tanto dinheiro em planos ao invés de levar o promotor a
apostar numa estratégia de penetração pelo contacto directo com os presumíveis
clientes, previamente identificados, e que serviriam para todos os efeitos para
dar feedback da utilidade do serviço / produto, bem como da sua funcionalidade.
Questão central: Afinal, porque
antes não testar a aceitação no mercado e conseguir feedback de qualidade de
forma imediata acerca das melhorias necessárias a se fazer no produto, para
efectiva satisfação do cliente? Assim, ao invés de encomendar um estudo de
mercado para posteriormente se encontrar as pessoas para entrevistar / testar,
porque não partir do pressuposto do teste de aceitação do produto através dos
presumíveis clientes? Para todos os efeitos, estes poderão vir a ser de facto
os clientes iniciais e já testados. Porque não arrancar com plano de negócio e
com a empresa já com clientes? Não se está a falar aqui da informalidade, nem
tão pouco mais ou menos.
Vejamos outro ponto de vista: Partamos do princípio que para a
criação da empresa, o estudo de mercado identifica as oportunidades,
tendências, público-alvo (global), apoia na elaboração da estratégia
empresarial, etc, etc, etc. Porém, importante reflectir pelo menos nos
seguintes pontos:
a) Identificar e confirmar a
existência de uma oportunidade de mercado através de um estudo, não significa
que taxativamente o produto tal como primordialmente concebido será vendido, ou
consumido, ou que trará benefícios ao cliente (tudo o que acrescentar valor);
b) Identificar um público-alvo,
não significa conhecer um segmento de consumo.
Bom, sem teste prévio do
produto, sem conhecimento do segmento específico, das duas, as duas:
1.Todos os produtos são vendidos da mesma forma (nos
mesmos suportes de comunicação de massa), pois não se conhece bem o segmento, e
daí não há especificação nos suportes de comunicação;
2. Poucos promotores conseguem levar adiante um plano de
comunicação / marketing por ser dispendioso vender nos canais de massa (sem
clientes não há vendas e sem vendas não há receitas).
Resultado: dinheiro gasto sem
utilidade nenhuma. A isto se chama de “desperdício”. E por mais ortodoxo que
possa parecer, o acesso ao crédito não resolve esse problema na fase de
arranque.
Além do desperdício, um grande
entrave na dinamização do sector privado. Se subirmos no topo de uma montanha
para analisaremos a imensidão de iniciativas de criação de pequenos negócios
que se encontram a borbulhar por todo o país, vemos de facto um oceano de
iniciativas com potencial, algumas inovadoras, outras nem por isso (não
interessa muito perante um projecto e promotor com potencial), e todas ansiosas
de arranque. No entanto grande parte vive o dilema de não saber como arrancar
com sustentabilidade. O crédito igualmente não resolve esse problema.
A nossa missão é introduzir
novas práticas de arranque das empresas, práticas inovadoras e que se ajustam
ao nosso ambiente económico, para que possamos finalmente presenciar a tal
“explosão”. O que aqui torna importante realçar, é que estamos a adoptar as
novas abordagens da gestão moderna na assistência técnica para a criação de
empresas. Efectivamente a ADEI tem encontrado resistências nos promotores, o
que é normal, pois trata-se de uma mudança de atitudes e essencialmente de
mobilidade no mercado.
De facto, começamos a aceitar gradualmente a realidade
de que as estratégias empresariais que aprendemos nas escolas de gestão,
inspiradas na sua maioria em práticas organizacionais consolidadas em mercados
estáveis, onde para todos os efeitos, as grandes estratégias ante arranque da
empresa e os grandes planeamentos (estáticos), muitas vezes esplanadas num
plano de negócio, são de facto importantes, mas de pouca utilidade pratica para
o arranque e sustentabilidade dinâmico de novas MPME. É sim, preciso inovar,
para crescer.
Dúnia Lopes | Coordenadora Unidade de Desenvolvimento
Empresarial