O segredo do empreendedorismo é muitas
vezes ter a coragem de inovar. Adelaide Santos é um exemplo disso, aquilo que
outros poderão considerar lixo, a artesã dá-lhe novas formas de vida. O
resultado é bijuterias, quadros e outras relíquias. Começou a trabalhar como
empregada doméstica antes de se dedicar ao artesanato. A descoberta do talento
para a reutilização de materiais surgiu com a ajuda de uma amiga, que decidiu
dar-lhe formação.
Adelaide Santos pegou o lema
depressa e pouco tempo depois deparava-se com tardes passadas com criações de
malas, bijuterias e objectos para enfeitar."Eu não sabia fazer
praticamente nada, mas depois da formação, a minha amiga disse-me que isto
deveria ser um dom que eu tinha, eu só precisava de despertar a vontade",
contou.
Em 2009, foi convidada a expor os seus
produtos na Feira Internacional de Cabo Verde (FIC), pelo IEFP. "As
pessoas começaram a ver e a gostar e a partir de então as Câmaras começaram a
chamar-me para expor nos seus eventos, em São Vicente, no Sal, no Tarrafal,
Santa Cruz e Praia", referiu.
Em todos os lugares que expunha,
perguntavam-lhe sempre onde podiam encontrar a sua loja e foi isso que a levou
a pensar que precisava de ter o seu próprio espaço para começar a desenvolver
outros projectos. Quando soube do concurso realizado pela ADEI para dar apoio a
projectos de empreendedorismo feminino, decidiu inscrever-se. Depois de quase
um ano de formação em como criar um negócio, foi uma das vencedoras e conseguiu
ver o seu projecto apoiado pela Incubadora de empresas.
O trabalho começou logo na altura de
concorrer para um espaço no Platô, na cidade da Praia. O local já está
garantido, Adelaide Santos aguarda agora por financiamento para poder pagar a
renda que ainda é muito alta para a artesã.
"Neste momento já contactei muitos
bancos, inclusivamente o Banco da Cultura, para ter um apoio neste início do
negócio, mas ainda não tive nenhuma resposta", explicou.Não baixou os
braços durante a espera. Entretanto tem trabalhado através de casa:
"Muitas pessoas às vezes trazem amigos de fora, emigrantes, turistas e há
outras que já me ligam com pedidos para eu ir entregar.""O que quero
é abrir um espaço em que possa vender as minha criações e as de outros artesãos
comprados por mim noutras ilhas", explicou.
Entretanto, tem em mãos outro projecto
paralelo de formações à comunidade para a sensibilização sobre a diminuição de
lixo e a sua reutilização. "O lixo também pode ser uma riqueza, eu
fico muito satisfeita quando consigo passar essa mensagem aos jovens e vejo
como eles ficam contentes em criar coisas a partir daquilo que anteriormente
poderia ser considerado inutilizável, além disso, também é uma forma de lhes
dar um ofício", afirmou.
Este foi o resultado da sua experiência
na zona de Latada e São Pedro, formação que foi financiada pelo Ministério do
Ambiente. Cascas de abacate, sementes de fruta ou garrafas de plástico
tornam-se assim composições de colares, malas e quadros. "As pessoas nem
fazem ideia de tudo o que se pode fazer com pacotes de leite, paletes ou mesmo
discos antigos. Nas formações que dei senti que as pessoas passaram a respeitar
mais a natureza e a ter uma consciência sobre a necessidade de
salvaguardá-la", reflectiu.E por isso mesmo é que o projecto Blak Art quer
englobar a formação criativa no aproveitamento do lixo, com base num espaço
destinado a assegurar a exposição dos produtos.
@Susana Duarte
06.01.2014
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