29 outubro 2013

O Indicador de Clima e as MPME

O indicador de clima económico confere informações avançadas sobre o estado dos diversos setores e de uma economia, de uma forma geral, permitindo, inferir sobre a dinâmica desta e a eficácia de políticas de crescimento económico.
Na ausência de dados quantitativos globais, por exemplo, o PIB trimestral como acontece em vários países com sistemas estatísticos mais desenvolvidos, a informação qualitativa, conjugada com outras informações relevantes, nomeadamente o registo de empresas, a evolução da carteira de crédito à economia, as exportações, as importações, que no nosso caso são publicados regularmente, permite fazer um exercício interessante de análise em percurso.
Sendo um indicador conjuntural, o indicador de clima económico é caracterizado pela sua volatilidade fruto de eventos pontuais que condicionam o ânimo e as expectativas de curto prazo do empresário. O anúncio de estatísticas que apontam para uma redução do crédito pode influenciar pela negativa a motivação de um empresário com um novo de investimento em mãos que poderia resultar a curto pu médio prazo no aumento das vendas e do emprego. A redução das importações pode significar uma menor procura induzida por menores rendimentos dos consumidores. Esta interpretação poderá ter uma influência negativa no empresário, olhando para o seu mercado nos 3 meses seguintes. Todavia, novas informações positivas poderão mudar a confiança do empresário e justificar uma mudança de ânimo no empresário e um clima empresarial mais favorável. No longo prazo, as desmotivações e euforias compensam-se e globalmente traduzem um comportamento positivo ou negativo alinhado com a evolução da economia, particularmente do Produto Interno Bruto.
O último relatório do INE revela sentimentos mistos nos vários setores alvo de inquéritos regulares. O sentimento positivo no setor do Turismo e do Comércio em Feiras é contrastado pela fraca confiança dos empresários dos transportes, da indústria transformadora e do comércio em estabelecimentos. A redução das importações, do crédito bancário e do investimento, particularmente privado e estrangeiro, que podia servir de contrapeso face à redução da formação bruta de capital fixo público, pode sugerir uma redução da dinâmica de crescimento verificada em 2011 (4%), eventualmente mantida em 2012 (4-5%), segundo dados do BCV, face à forte quebra de 2010 (1,9%).
A análise macro deve ser reforçada com uma análise mais fina dos determinantes do clima de modo a melhor se inferir sobre a solidez dos mesmos e da capacidade de medidas de política poderem contornar os constrangimentos, beneficiar o ambiente de negócios, promover o investimento, o crescimento e a criação de emprego.
O setor da construção, tradicionalmente pessimista (média negativa), mostra-se estranhamento insensível ao crescimento do setor nos últimos 10 anos. A insuficiência da procura poderá ser ultrapassada com novas tecnologias e processos de produção que permitam a redução de custos e preços de venda de habitações. A inovação é uma resposta. Recomenda-se a introdução da inovação endógena ou exógena que seja capaz de reduzir os custos de produção e melhorar a eficiência de utilização recursos naturais e ambientais. Por exemplo, a utilização do solo para a produção de blocos. A melhoria de processos através da implementação de sistemas de qualidade ambiental e de produção industrial.
O constrangimento relevante do setor do Turismo prende-se com a procura. As estatísticas anuais, que mostram um importante aumento todos os anos, quer em turistas, quer em dormidas, levam a perceber que o défice de procura se restringe às pequenas unidades hoteleiras e de restauração que não estão no circuito internacional dos grandes operadores turísticos europeus. Estas pequenas unidades espalhadas por todo o país precisam, sobretudo, de uma melhoria significativa da qualidade da oferta, da adequação da capacidade com o standard de vendas internacionais, do desenvolvimento de canais alternativos de venda e da aposta no Turismo doméstico. Reputamos como importantes a oferta de capacitação da ACADEMIA das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) da Agência, lançado no 2º semestre deste ano, do serviço de vendas via web E-Turismo da PRIME, promovido pela Direção Geral do Turismo.      
A concorrência registada no setor dos Transportes pode ser obviada com o aumento da qualidade do serviço. São reconhecidos os níveis deficientes ou inexistentes de qualidade de serviço nos transportes intra-urbanos, inter-urbanos, aéreos e marítimos. Por seu lado, as dificuldades financeiras poderão ser mitigados pela melhoria de capacidade de gestão e da educação financeira. Estes têm merecido foco no plano de formação da ACADEMIA MPME.            
 Os constrangimentos associados ao crédito, acesso e taxa de juro, revelados pelos empresários da Construção e dos Transportes, terão uma solução em breve com a implementação do Sistema de Garantia Mútua, cuja empresa mutualista, a CV Garante, já está em fase inicial de funcionamento, prevendo-se a análise de dossiers de pedido de garantias e apoio no acesso ao crédito no próximo mês de Novembro.  
A falta de energia e água, bem como as matérias-primas na indústria transformadora estão em processo de resolução. As barragens permitirão libertar a água para as industrias, hoje muito consumida na agricultura através dos furos para o subsolo. O aumento da produção agrícola beneficia a nossa indústria, sobretudo a Agroalimentar, a mais importante no país. Esta vem beneficiando do aumento gradual da produção agrícola, com maior diversidade, volume de fornecimento e preços mais baixos.
Neste contexto de redução da dinâmica de crescimento e estando numa fase muito avançada de upgrade das infraestruturas de base à atividade económica, é expectável e desejável que se materialize o efeito gradual dos investimentos estruturais na melhoria da eficiência e da produtividade, de modo impulsionar ganhos de competitividade das empresas, dos setores, em especial os setores estratégicos (clusters), e da economia no geral.       

Frantz Tavares
Presidente ADEI