06 janeiro 2014

"O nosso lixo pode ser uma riqueza"

O segredo do empreendedorismo é muitas vezes ter a coragem de inovar. Adelaide Santos é um exemplo disso, aquilo que outros poderão considerar lixo, a artesã dá-lhe novas formas de vida. O resultado é bijuterias, quadros e outras relíquias. Começou a trabalhar como empregada doméstica antes de se dedicar ao artesanato. A descoberta do talento para a reutilização de materiais surgiu com a ajuda de uma amiga, que decidiu dar-lhe formação.
 Adelaide Santos pegou o lema depressa e pouco tempo depois deparava-se com tardes passadas com criações de malas, bijuterias e objectos para enfeitar."Eu não sabia fazer praticamente nada, mas depois da formação, a minha amiga disse-me que isto deveria ser um dom que eu tinha, eu só precisava de despertar a vontade", contou.

Em 2009, foi convidada a expor os seus produtos na Feira Internacional de Cabo Verde (FIC), pelo IEFP. "As pessoas começaram a ver e a gostar e a partir de então as Câmaras começaram a chamar-me para expor nos seus eventos, em São Vicente, no Sal, no Tarrafal, Santa Cruz e Praia", referiu.

Em todos os lugares que expunha, perguntavam-lhe sempre onde podiam encontrar a sua loja e foi isso que a levou a pensar que precisava de ter o seu próprio espaço para começar a desenvolver outros projectos. Quando soube do concurso realizado pela ADEI para dar apoio a projectos de empreendedorismo feminino, decidiu inscrever-se. Depois de quase um ano de formação em como criar um negócio, foi uma das vencedoras e conseguiu ver o seu projecto apoiado pela Incubadora de empresas.

O trabalho começou logo na altura de concorrer para um espaço no Platô, na cidade da Praia. O local já está garantido, Adelaide Santos aguarda agora por financiamento para poder pagar a renda que ainda é muito alta para a artesã.

"Neste momento já contactei muitos bancos, inclusivamente o Banco da Cultura, para ter um apoio neste início do negócio, mas ainda não tive nenhuma resposta", explicou.Não baixou os braços durante a espera. Entretanto tem trabalhado através de casa: "Muitas pessoas às vezes trazem amigos de fora, emigrantes, turistas e há outras que já me ligam com pedidos para eu ir entregar.""O que quero é abrir um espaço em que possa vender as minha criações e as de outros artesãos comprados por mim noutras ilhas", explicou.

Entretanto, tem em mãos outro projecto paralelo de formações à comunidade para a sensibilização sobre a diminuição de lixo e a sua reutilização. "O lixo também pode ser uma riqueza, eu fico muito satisfeita quando consigo passar essa mensagem aos jovens e vejo como eles ficam contentes em criar coisas a partir daquilo que anteriormente poderia ser considerado inutilizável, além disso, também é uma forma de lhes dar um ofício", afirmou.

Este foi o resultado da sua experiência na zona de Latada e São Pedro, formação que foi financiada pelo Ministério do Ambiente. Cascas de abacate, sementes de fruta ou garrafas de plástico tornam-se assim composições de colares, malas e quadros. "As pessoas nem fazem ideia de tudo o que se pode fazer com pacotes de leite, paletes ou mesmo discos antigos. Nas formações que dei senti que as pessoas passaram a respeitar mais a natureza e a ter uma consciência sobre a necessidade de salvaguardá-la", reflectiu.E por isso mesmo é que o projecto Blak Art quer englobar a formação criativa no aproveitamento do lixo, com base num espaço destinado a assegurar a exposição dos produtos.

@Susana Duarte

06.01.2014

Saiba mais no Portal do Estudante