17 dezembro 2013

Criação de empresas no programa CRIA

A ADEI Tem vindo a operar no sentido de promover a criação, desenvolvimento e sustentabilidade das empresas, através de acções de desenvolvimento da produtividade agregada, capacitação e inovação empresarial, tendo sob sua gestão directa os Programas CRIA, PME+, ACESSO AO MERCADO, INOVAR, RENOVAR e Academia MPME. Nos últimos anos, a ADEI tem ganho know how significativo acerca da realidade operacional das MPME cabo-verdianas, actuando de forma directa dentro das empresas e dos projectos de criação de empresas, através da contratação de consultores competentes para prestarem assistência técnica especializada de acordo com as necessidades avaliadas. Por exemplo, no âmbito do Programa CRIA (programa direccionado para assistência técnica na criação da empresa), a Agência assumiu uma viragem metodológica.

Com base no perfil dos clientes que se candidatam ao programa, know how da volatilidade dos mercados internacionais e dos vários constrangimentos existentes no ambiente de fazer negócios, já lá vão os tempos em que os planos de negocio afiguravam-se como ponto de partida base para a criação de uma nova empresa. Os grandes planos de marketing, igualmente começaram a configurar-se desajustados à nossa realidade. Os grandes estudos de mercado, passaram para um segundo plano, ao questionarmos se de facto, na fase de criação da empresa, valeria despender tanto dinheiro em planos ao invés de levar o promotor a apostar numa estratégia de penetração pelo contacto directo com os presumíveis clientes, previamente identificados, e que serviriam para todos os efeitos para dar feedback da utilidade do serviço / produto, bem como da sua funcionalidade.
Questão central: Afinal, porque antes não testar a aceitação no mercado e conseguir feedback de qualidade de forma imediata acerca das melhorias necessárias a se fazer no produto, para efectiva satisfação do cliente? Assim, ao invés de encomendar um estudo de mercado para posteriormente se encontrar as pessoas para entrevistar / testar, porque não partir do pressuposto do teste de aceitação do produto através dos presumíveis clientes? Para todos os efeitos, estes poderão vir a ser de facto os clientes iniciais e já testados. Porque não arrancar com plano de negócio e com a empresa já com clientes? Não se está a falar aqui da informalidade, nem tão pouco mais ou menos.

Vejamos outro ponto de vista: Partamos do princípio que para a criação da empresa, o estudo de mercado identifica as oportunidades, tendências, público-alvo (global), apoia na elaboração da estratégia empresarial, etc, etc, etc. Porém, importante reflectir pelo menos nos seguintes pontos:
a) Identificar e confirmar a existência de uma oportunidade de mercado através de um estudo, não significa que taxativamente o produto tal como primordialmente concebido será vendido, ou consumido, ou que trará benefícios ao cliente (tudo o que acrescentar valor);
b) Identificar um público-alvo, não significa conhecer um segmento de consumo.
Bom, sem teste prévio do produto, sem conhecimento do segmento específico, das duas, as duas: 

1.Todos os produtos são vendidos da mesma forma (nos mesmos suportes de comunicação de massa), pois não se conhece bem o segmento, e daí não há especificação nos suportes de comunicação;
2. Poucos promotores conseguem levar adiante um plano de comunicação / marketing por ser dispendioso vender nos canais de massa (sem clientes não há vendas e sem vendas não há receitas).

Resultado: dinheiro gasto sem utilidade nenhuma. A isto se chama de “desperdício”. E por mais ortodoxo que possa parecer, o acesso ao crédito não resolve esse problema na fase de arranque.
Além do desperdício, um grande entrave na dinamização do sector privado. Se subirmos no topo de uma montanha para analisaremos a imensidão de iniciativas de criação de pequenos negócios que se encontram a borbulhar por todo o país, vemos de facto um oceano de iniciativas com potencial, algumas inovadoras, outras nem por isso (não interessa muito perante um projecto e promotor com potencial), e todas ansiosas de arranque. No entanto grande parte vive o dilema de não saber como arrancar com sustentabilidade. O crédito igualmente não resolve esse problema.

A nossa missão é introduzir novas práticas de arranque das empresas, práticas inovadoras e que se ajustam ao nosso ambiente económico, para que possamos finalmente presenciar a tal “explosão”. O que aqui torna importante realçar, é que estamos a adoptar as novas abordagens da gestão moderna na assistência técnica para a criação de empresas. Efectivamente a ADEI tem encontrado resistências nos promotores, o que é normal, pois trata-se de uma mudança de atitudes e essencialmente de mobilidade no mercado. 
De facto, começamos a aceitar gradualmente a realidade de que as estratégias empresariais que aprendemos nas escolas de gestão, inspiradas na sua maioria em práticas organizacionais consolidadas em mercados estáveis, onde para todos os efeitos, as grandes estratégias ante arranque da empresa e os grandes planeamentos (estáticos), muitas vezes esplanadas num plano de negócio, são de facto importantes, mas de pouca utilidade pratica para o arranque e sustentabilidade dinâmico de novas MPME. É sim, preciso inovar, para crescer.


Dúnia Lopes | Coordenadora Unidade de Desenvolvimento Empresarial